Postado por: Maac Gouveia sexta-feira, 27 de março de 2015

Livro: Marina
Editora: Suma de Letras
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Páginas: 192

Sinopse: Neste livro, Zafón constrói um suspense envolvente em que Barcelona é a cidade-personagem, por onde o estudante de internato Óscar Drai, de 15 anos, passa todo o seu tempo livre, andando pelas ruas e se encantando com a arquitetura de seus casarões.

É um desses antigos casarões aparentemente abandonados que chama a atenção de Oscar, que logo se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um relógio de bolso quebrado e muito antigo. Mas ele se assusta com uma inesperada presença na sala de estar e foge, assustado, levando o relógio. Dias depois, ao retornar à casa para devolver o objeto roubado, conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre à mesma data, à mesma hora.

Os dois passam então a tentar desvendar o mistério que ronda a mulher do cemitério, passando por palacetes e estufas abandonadas, lutando contra manequins vivos e se defrontando com o mesmo símbolo - uma mariposa negra - diversas vezes, nas mais aventurosas situações por entre os cantos remotos de Barcelona. Tudo isso pelos olhos de Oscar, o menino solitário que se apaixona por Marina e tudo o que a envolve, passando a conviver dia e noite com a falta de eletricidade do casarão, o amigável e doente pai da garota, Germán, o gato Kafka, e a coleção de pinturas espectrais da sala de retratos.

Em Marina, o leitor é tragado para dentro de uma investigação cheia de mistérios, conhecendo, a cada capítulo, novas pistas e personagens de uma intrincada história sobre um imigrante de Praga que fez fama e fortuna em Barcelona e teve com sua bela esposa um fim trágico. Ou pelo menos é o que todos imaginam que tenha acontecido, a não ser por Oscar e Marina, que vão correr em busca da verdade - antes de saber que é ela que vai ao encontro deles, como declara um dos complexos personagens do livro.

Devo concordar com o próprio Záfon quando este diz que Marina é “provavelmente o mais indefinível e difícil de categorizar de todos os romances que escrevi”. Claro, esta foi a minha primeira experiência com o escritor espanhol e portanto não posso afirmar por todos os romances, mas posso afirmar por este. Como diz também o USA Today, “O talento visionário de Záfon para contar histórias é um gênero literário em si”. A narrativa de apenas 189 páginas apresenta uma miscelânea de gêneros com pitadas de drama, mistério, horror, aventura, suspense, ação e talvez muitos outros.
A história tem três grandes protagonistas: Barcelona, a morte e Marina. Na Barcelona de 1980 conhecemos Óscar Drai, um menino de quinze anos que vive num internato e que adora sair para admirar a arquitetura gótica, cheia de catedrais e obras à lá Gaudí. Num desses passeios, no bairro de Sarriá, esquecido e abandonado pelo próprio tempo, ele acaba encontrando a amizade de Marina e seu pai, Gérman, depois de devolver um relógio que ele acabou roubando do casarão. E nossa terceira protagonista, onde entra? Ela está em todo lugar, mostrando a fragilidade e a incapacidade humana. Mas principalmente na história do imigrante Mijail Kolvenik, caso que Marina e Óscar são praticamente jogados e que permeia a maioria do livro.
A linguagem de Zafón é rica e rebuscada, totalmente descritiva, o que, particularmente, não é meu estilo, mas apesar da estranha sensação inicial, logo a partir do segundo capítulo a linguagem fluiu normal. Essa riqueza de detalhes é ótima por que nos põe realmente dentro daquele ambiente, daquela atmosfera. O jeito com que Carlos Ruiz conta a história é tão poderoso que chega um momento que aquilo não parece apenas ficção, parece que foi realidade, de tão minucioso que é.
Óscar é um ótimo narrador, que nos conta sua história relembrando o passado com um quê de ilusão, e um ótimo personagem, astuto, destemido e até parece um pouco avançado para a sua idade. Marina consegue ser ainda mais ardilosa que Óscar, afinal, tudo acontece por ela, de certa forma. Não é a toa que ela nomeia o livro. Mesmo que tenha sido Óscar que roubara um relógio e por isso teve que voltar àquela casa, foi Marina que começou a amizade entre eles e os guiou para dentro do grande mistério. As histórias de todos os personagens são descritas com enorme precisão e realidade, encaixando-se com todos os personagens pertencentes aos seus cenários.
A história em si, me parece um pouco confusa. É como se elas separadas fossem boas, super intrincadas, mas juntas, apesar de ser algo legal de ver, ainda parece desnecessário, ao acaso. Por exemplo, os meninos seguirem a Dama de Preto e então começarem a parte de mais suspense do livro foi uma total coincidência. Não havia algo que realmente os ligasse àquilo. A história que parece uma mescla de Frankestein – até por que ter uma personagem nomeada María Shelley não deve ter sido mero acaso – e Florence e Giles – A Menina que não sabia ler, que de certa forma, se assemelham um pouco – parece ter sido jogada no meio de um drama/romance. É como se as histórias não se encaixassem tanto, que passado o mistério vem o drama... Como se essa aventura “macabra” pudesse ser substituída por outro tipo de aventura e, no fim, não mudaria muita coisa. Porém friso novamente, separadas são histórias muito boas.
Salvo o que falei, o livro é muito bom mesmo e dá para perceber por que Zafón é tão aclamado. Mesmo não sendo minha zona de conforto – o que é ótimo, só assim conhecemos coisas novas – quero ler mais livros dele. A atmosfera gótica, meio steampunk, ao qual pelo menos este livro nos levou é espetacular. Além de ser bem curtinho, ou seja, você lê super rápido, ainda mais quando se interessa pela história. Como a própria capa e o título não dizem muito sobre o livro, não crie muitas expectativas. Vá apenas esperando uma boa história para se ler.



Expresse-se! Deixe um comentário.

Receba os posts | Receba os comentários

- Copyright © Mas que livro! - Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan -