Postado por: Maac Gouveia sexta-feira, 4 de abril de 2014


Livro: Ghost Rider - A Estrada da Cura
Editora: Belas Letras
Autor: Neil Peart
Páginas: 528

Sinopse: Após a morte da única filha, Selena, e da esposa, Jackie, o músico Neil Peart se transformou em um fantasma – um homem sem motivação, esperança ou fé. Sozinho em casa, convivendo com as lembranças, ele decide pegar a estrada com sua moto, uma BMW R1100GS, para rodar por 90 mil quilômetros, sem destino, em busca de um motivo para preencher o vazio que sente. Esta é a história real de um homem que partiu carregando a morte e o luto, mas transformou sua jornada em uma poderosa narrativa sobre a solidão, o amor e, acima de tudo, a paixão pela vida, mesmo quando tudo ao nosso redor nos leva a desistir dela.


O que fazer quando parece que seu mundo desmoronou e você não tem mais vontade de seguir em frente? Um desses momentos negros aconteceu na vida de Neil Peart após perder sua única filha, Selena, e menos de um ano depois, perder também a sua esposa, Jackie... O músico – famoso baterista da banda canadense Rush – acabou desmotivado, vivendo como se fosse um fantasma cercado pelas lembranças que a casa onde moravam trazia. Então, numa saída desesperada, ao completar o primeiro ano da morte de sua filha e um mês da morte de sua esposa, ele partiu em sua moto – uma BMW R1100GS – sem ter destino algum, apenas com o pensamento de que “algo iria acontecer.”
E quanta coisa aconteceu... Nessa viagem inesperada que começou no meio de agosto e terminou lá no fim de dezembro – na verdade, ao todo foram quase 14 meses de viagem e 88 mil quilômetros! – ele conheceu pessoas, foi acolhidos por amigos, tentou lidar com a morte, seus fantasmas e suas personalidades múltiplas, e até encontrou o que procurava: alguns momentos que ele batizara de momentos de Verdade e Beleza na Estrada da Cura. Era um caminho longo e sinuoso para tentar se livrar do luto, da culpa, da falta e de todos os sentimentos que ele carregava, mas Neil tinha três “guias espirituais” que o ajudavam a aguentar aquela jornada: paisagens, rodovias e vida selvagem.
Seguindo o que lhe aparecia no caminho, ele viajou até o Alasca e desceu passando pelo Canadá, Estados Unidos e México até chegar em Belize. Passando por lugares legais e diferentes como a Floresta das Placas, a estrada Topo do Mundo, o lago Mono e trilhando os passos de cidades, estradas e escritores fantasmas (Telephone Creek, Rota 66 e alguns escritores como Sinclair Lewis, Jack London, Edward Abbey e Ernest Hemingway) ele se deu conta de que o principal para que ele pudesse lidar com os seus sentimentos e conseguir pensar com clareza era “continuar em movimento”, “levar a sua pequena alma de bebê para passear”, como ele dizia. E também selecionar o que ele gostava antes para ver se ainda gostava, o que acabou se confirmando com a observação de pássaros, esqui cross-country, pilotar, além de outras coisas.
A autobiografia é feita por meio de narrativas, cartas e anotações no seu diário e cada capítulo é iniciado e finalizado por trechos de suas composições. (Ghost Rider, 2001 e Entre Nous, 1979, por exemplo, foram as que mais gostei.) O livro tem uma história muito real e tocante e é um romance sobre superação e perseverança em frente as dificuldades que a vida põe no nosso caminho. É incrível ver como ele consegue achar saídas, o amadurecimento que as viagens – um dos modos que ele encontrou de lidar com a perda – puderam proporcionar a ele e como a sua “pequena alma de bebê” foi aos poucos crescendo e se acalmando. Muitas vezes pensei “Poxa, que incrível seria sair viajando por aí assim tipo ele”, mas como ele mesmo diz, aquela viagem era um exílio, sua única solução, não algo que fosse bom de ser “invejado”.
É claro que eu como um leitor mais acostumado com a ficção, achei um pouco cansativo o ritmo do livro, porém não por isso deixei de aproveitar a leitura. Ou seja, mesmo que você seja mais acostumado com outros gêneros, esta autobiografia não vai deixar de ser uma boa leitura já que a linguagem de Neil é boa: densa, rica e cheia de metáforas e detalhes. Mesmo você não tendo visitado os lugares ditos no livro, é como se estivesse lá, vendo tudo, aproveitando tudo... O livro de Neil e sua jornada tanto geográfica quanto emocional trazem vários ensinamentos e conseguem ser divertidos, mas também fazer você pensar sobre.
Quanto à edição, nunca havia lido nada da Belas Letras, mas achei o trabalho com o livro bem cuidadoso. A capa também é muito legal e representa um "ideal" que Neil tinha, que até dá nome ao livro: o Ghost Rider. Ele parava a moto, a apoiava no cavalete e ia para trás tirar uma foto como se a moto estivesse em movimento. Com isso ele queria dizer que era o verdadeiro Ghost Rider, um motoqueiro fantasma, que viajava por aí, sem rumo, sem ninguém que o conhecesse e aquilo o tornava invisível, como se não fosse real... Neil Peart já escreveu outros livros, incluindo suas aventuras de bicicleta pela África e com certeza deve ser uma viagem tão pitoresca e emocionante quanto esta aqui, a do Ghost Rider.

{ 2 comentários... leia-os abaixo ecomente também! }

  1. Sério, eu não dava nada por esse livro... mas com essa sua resenha você conseguiu me passar o quão intenso e tocante este livro pode ser, você conseguiu passar a mesma vontade de pegar uma mochila e sair por aí andando (pobre não tem moto) e, além de tudo isso, por que a moto da capa tá andando só? (ah, já sei, acho que ilustra que quem teve essa "jornada", além dele, foi sua "pequena alma de bebê")
    Enfim... Maac adorei a resenha o/

    Otávio Braga || bookolicos.com

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    Respostas
    1. Obrigado, Otávio!
      Então, eu até ia falar sobre a foto na resenha - e acabei não arrumando um espaço para ela, o que eu vou acabar fazendo agora, graças a você! - e eu achei interessante. Quando o Neil via alguma paisagem legal, ele parava a moto, apoiava ela, e tirava uma foto de trás, dando a impressão de que a moto estava em movimento... Com isso ele queria mostrar que era um Ghost Rider, um motoqueiro fantasma, que viajava por aí, sem rumo, sem ninguém que o conhecesse e, de certa forma, ficava invisível para os outros.

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