Postado por: Maac Gouveia quinta-feira, 1 de novembro de 2012


O que é isso? Uma nova coluna do blog. Saiba mais sobre ela nesse link.

Nordeste. Vidas Secas.
Ano de tão grande importância no cenário artístico, comemoramos centenários de vários grandes personagens da cultura brasileira. Luiz Gonzaga, na sua música, bem nordestina e típica da região. E na literatura, três grande nomes: Jorge Amado, escritor de vários livros como Capitães de Areia, Tieta do agreste; Carlos Drummond de Andrade, grande poeta e cronista, que se estivesse vivo, completaria 110 anos; E então, Graciliano Ramos, grande representador do regionalismo.

120 anos. Seria essa a idade desse grande autor alagoano, por muitos considerado o romancista que melhor soube exprimir a dura realidade dos habitantes do nordeste. Publicou seu primeiro livro, chamado de Caetés, em 1933. Logo depois, no ano seguinte, publicou São Bernardo, e então Vidas Secas, em 1938. Vidas Secas foi talvez o melhor da literatura regionalista do Brasil, que tinha sua alta por volta de 1930. Como marco desse período, fala-se muito em seca, migração, problemas com a aridez do solo que envolve o nordeste e de uma maneira geral, o Brasil. E é isso que o enredo de Vidas Secas mostra.

A história conta, em terceira pessoa, a situação dramática das pessoas que vivem no sertão, especialmente Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia. Eles são nada mais que um bando de retirantes, com suas vidas secas tal como o solo em que pisam, que buscam sempre por trabalho, comida, abrigo, sobrevivência.

Graciliano retrata todo esse drama explicando bem todos os aspectos do cenário. Há elementos e trejeitos bem nordestinos, como as plantações xerófilas que por lá existem: mandacarus, xiquexiques, juazeiros ou como as alpercatas e seu aió, espécie de bolsa. Mas, mesmo com todas as dificuldades encontradas no caminho por eles, ainda há uma ponta de esperança; uma luz no fim do túnel que aponte que tudo aquilo pode mudar para melhor.

Fabiano, um dos personagens principais do livro, considera-se um bicho, não um homem. Um cabra. Ele se achava capaz de sobreviver naquelas condições secas e áridas do sertão e da caatinga, além de que não nascera para falar pomposamente, coisa que ele achava até desnecessária, pois deveria lutar com as coisas e não focar nos livros que diziam sobre as coisas, até por que, tinha exemplos de pessoas que se ligavam de mais aos livros e não se deram tão bem. Mesmo assim, desejava aos filhos a curiosidade e a leitura, se não fossem cercados pela miséria e a seca.

 Sinhá Vitória, por sua vez, mantinha as esperanças que o marido criava - de algo poderia ser melhor algum dia - e desejava ardentemente uma cama, já que a capa feita de taipa deles, já não era tão boa. Boa de contas, era um alívio para Fabiano, que ajudava-a já que era considerado bruto.

Baleia, é outro personagem importante. Na verdade, ela que originou o livro. Inicialmente, Graciliano escreveu apenas um conto sobre uma cadela e assim, foi constituindo-se a família e todo o cenário, como pode ser visto a seguir.

"Em 1937 escrevi algumas linhas sobre a morte de uma cachorra [...]. Dediquei em seguida várias páginas aos donos do animal. Essas coisas foram vendidas em retalhos, a jornais e revistas. E como José Olímpio me pedisse um livro para o começo do ano passado, arranjei outras narrações, que tanto podem ser contos como capítulos de romance. Assim nasceram Fabiano, a mulher, os dois filhos e a cachorra Baleia [...]” (RAMOS, Graciliano; Linhas Tortas; 1962).

Portanto, Vidas Secas é uma antologia de contos, juntas no mesmo livro, por isso pode ser considerado um "romance desmontável", pois, podem ler os treze capítulos em qualquer ordem - apenas Mudança, o primeiro e Fuga, o último, devem ser lidos nessa ordem definida. Até por que, os contos do livro, não foram escritos na cronologia que está posta no livro. O que reforça essa independência dos textos, é que os fatos se repetem, são lembrados. Casos que no primeiro capítulo aconteceram, são revividos no terceiro, por isso não há dificuldade de entender a história lida de outro modo. Essa peculiaridade se dá ao fato de que todos os acontecimentos rodeassem os personagens, que eram obrigados de sair de quando em quando, procurando outro lugar.

Lembrando, o romance é de 1930, tempo em que migrações eram bem mais aparentes e funcionou implicitamente como uma crítica social Hoje, há vários lugares nordestinos super desenvolvidos. Isso aqui não é apenas seca, falta d'água ou miséria, caso ainda tenha gente que pense assim. Enfim, viva o Nordeste! Viva o Brasil!

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