Ela simplesmente não sabe como lidar com sua nova identidade, com sua nova "condição". Sua transformação em Sereia agora requer uma atenção e cuidado redobrado que inclui vários mergulhos matinais e consumo e banhos de água salgada, mas depois de um tempo nada disso parece ser suficiente. Seu corpo de sereia parece querer algo mais... Além disso, seu relacionamento com Simon acabou e tudo na cidade faz com que ela lembre-se dele. Mas como ela vai conseguir manter um relacionamento amaroso se seu destino envolve flertar com outros homens e até mesmo matá-los para sobreviver?

Profundezas é o livro que finaliza a trilogia, mas que mesmo assim é morno, sem sal, ao contrário do que se esperava. Tricia escreveu Sereia brilhantemente. Uma história que mesclava policial com o sobrenatural e que tinha muito potencial e originalidade. Em Encanto, segundo livro da série, houve alguns pontos fracos e descontentamentos, porém a abordagem mais psicológica e a empolgação deixava falar mais alto e camuflava um pouco os deslizes que a série vinha cometendo. Já em Profundezas, não havia como camuflar. O livro não empolga até chegar depois da metade do livro e é repetitivo, usando - e relembrando constantemente - de enredos já utilizados nos livros anteriores, sem muita coisa nova.

Lembro-me muito bem de que no fim da resenha do livro um da série, Sereia, eu falei que não sabia que rumo a história iria tomar além de duas vertentes básicas e que esperava que o livro me surpreendesse... Bem, posso dizer que Tricia Rayburn conseguiu isso. Encanto é o segundo livro da série que fala sobre essas criaturas mitológicas, as sereias, e um conselho que eu dei anteriormente e que repito agora é: não julgue um livro pela sua capa, pois a série é bem melhor do que se pode imaginar.

A sinopse, sempre dando spoilers, aponta um triângulo amoroso, mas Tricia trabalhou-o tão bem que ele não é um triângulo daquele tipo meloso, onde a menina se derrete pelos dois e fica totalmente indecisa. No desenrolar da história, vemos uma "explicação plausível" para que aconteça isso... Não é um simples mimimi amoroso e frescuras, como em muitos outros livros. Mas mesmo com essa explicação, não consegui deixar de sentir raiva da personagem principal, Vanessa Sands, ou pena do seu namorado, Simon Carmichael. E acho que esse é mais um ponto forte para o livro. Ele nos envolve emocionalmente e nos leva à fundo para a cabeça de Vanessa, talvez psicologicamente abalada com o que acontecera com a irmã e com ela mesma. É realmente agoniante.

Acredito que Encanto sofra sim o fato de ser o "livro da transição", o livro dois de uma trilogia, e que quase sempre eu, particularmente, não gosto muito, pois há aquela responsabilidade de ele superar o primeiro e nos instigar para o terceiro, mas acho que mesmo com alguns déficits, ele cumpriu seu trabalho direitinho. A trama foi tecida com os buracos que deixou outrora, em Sereia, e deixou também novos ganchos para o grande final da série.

Porém creio que o livro está fundado em dois pilares básicos: o amoroso e o psicológico. Pois a história praticamente se centram nisso e não está tão eletrizante e cheio de suspense - o que explica o fato de eu ter demorado vários dias para ler os capítulos iniciais, que me deixavam absurdamente com sono - mas mesmo assim não foi algo que ao meu ver deixou a desejar. A temática amorosa não é exagerada e é coerente e o psicológico é tratado com delicadeza, com a situação em que a mãe de Vanessa se encontra, Jacqueline, tentando refazer a vida como se sua filha ainda estivesse viva, além também do pai dela, Phillip, com problemas do passado e a própria protagonista afundada no meio desses dois grandes problemas.

Estou ansioso pelo volume final e essas vibrações positivas devem ao impacto que a a série me causou desde o começo. Eu não esperava muito dela e então ela veio surpreendentemente boa, aí me conquistou. Rayburn conseguiu construir uma boa história e mesmo quando ela parecia não saber o rumo que tomar - coisa que nos deixa mais afoito ainda, apreensivos; você acha que é uma coisa e de repente vê que é outra -, a obra parecia caminhar sozinha, fluindo leve. Há ainda algumas coisas não tão bem esclarecidas - culpa de querer nos deixar louco e resolver a trama toda num capítulo só - mas que espero que sejam resolvidas. E que venha Profundezas com mais mistérios.

Nunca julgue um livro pela sua capa – ou pelo seu título, como no caso deste livro. Sereia, de Tricia Rayburn, poderia não agradar a várias pessoas por que o título remete as lendárias criaturas do mar e isso poderia ser um ponto fraco da narrativa, mas não é. Tricia conseguiu usar esse cenário e esses seres de um modo espetacular, unindo o sobrenatural, suspense e até romance policial, digamos assim.