Oitavas de final do campeonato de futebol mais importante do planeta... A Copa do Mundo FIFA 2014 é no nosso país, o Brasil, e apesar das polêmicas, é tempo de festa, competição e também leitura, por quê não? E por isso - e inspirado nas postagens da página do Facebook Biologia com o Prof. Jubilut - vamos acompanhar a partir de agora esses jogos da copa indicando livros ou autores dos países restantes. Pois assim como a Copa é multicultural, devemos ter uma prateleira diversificada com uma mistura de gêneros e de países!

No primeiro confronto do dia, temos Carlos Drummond de Andrade defendendo a nossa camisa, a camisa amarelinha da seleção canarinha, contra Pablo Neruda que vem lá do chile, sul-americano como a gente, mas que não faz fronteira com o Brasil. Obs.: Esses posts não têm a intenção de dizer que um é melhor que o outro ou que um vencerá e o outro não, são apenas indicações de boas leituras.

Tanto Drummond quanto Neruda são importantes poetas. Enquanto o primeiro além de poeta é contista e cronista e é considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX, o segundo é considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana deste mesmo século, tendo inclusive ganhado o Nobel de Literatura em 1971. Drummond nasceu assim mesmo, Carlos Drummond de Andrade numa cidade que tem noventa por cento de ferro nas calçadas, noventa por cento de ferro nas almas chamada Itabira, imortalizada no poema Confidência do Itabirano da qual a frase acima foi retirada. Já Neruda nasceu Neftalí Ricardo Reyes Basoalto e adotou seu pseudônimo ainda adolescente inspirado no escritor checo Jan Neruda.

Importantíssimo para a divulgação do Modernismo no Brasil, fundando "A Revista", Drummond fazia parte de uma geração que seguia a libertação, com versos livres sem a dependência de uma métrica fixa e também era objetivo e concreto. Na maior parte do tempo de sua vida, Drummond foi funcionário público embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até o seu falecimento, em 1987. Suas poesias falavam principalmente do indivíduo, da terra natal, da família, dos amigos, do choque social, do amor, da poesia e também da existência. Um de seus livros, Sentimento do Mundo, foi até resenhado no blog. {Link da Resenha}

Já a poesia de Neruda tem fases distintas. Ele pode ser o lírico e angustiado ou crítico e político e até mesmo épico. Aos 23 anos, foi nomeado cônsul-geral do chile em Rangún, Birmânia e a sua carreira diplomática continuaria em Djacarta, Madri (Durante a Guerra Civil Espanhola) e México, embaixador de 1940 a 1942. Foi senador em 1945 e permaneceu exilado em Paris de 1948 a 1952. Em 1971 recebeu seu prêmio Nobel e foi mais uma vez nomeado embaixador do chile, agora em Paris.

Sê,
de Pablo Neruda

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale, mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Noturno à janela do apartamento,
de Carlos Drummond de Andrade

Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.

Nenhum pensamento de infância,
nem saudade nem vão propósito.
Somente a contemplação
de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula.
Mas a vida tem tal poder:
na escuridão absoluta,
como líquido, circula.

Suicídio, riqueza, ciência...
A alma severa se interroga
e logo se cala. E não sabe
se é noite, mar ou distância.

Triste farol da Ilha Rasa.

Ou seja, cada um foi importante para o seu país: Drummond, na literatura, ajudou a consolidar um dos maiores movimentos literários, o Modernismo, Neruda teve uma vida diplomática e política cheia de percalços e ambos são grandes poetas. Poetas que escreveram sobre amor, sobre família, sobre críticas sociais. Essa será uma partida das grandes! Tanto aqui, quanto no campo. Assistam os jogos, mas não deixem os livros de lado. #VaiTerLeituraSim!