Postado por: Maac Gouveia sexta-feira, 6 de setembro de 2013


Moçambique.
Mia Couto.
O Último Voo do Flamingo.


Sinopse: Mia Couto é um dos escritores africanos de maior destaque da atualidade. O último voo do flamingo, publicado originalmente em 2000, é seu quarto romance, e foi lançado quando Moçambique comemorava 25 anos de independência de Portugal. 
Depois de um longo tempo de guerra civil, soldados das Nações Unidas estão em Moçambique para acompanhar o processo de paz. O romance narra estranhos acontecimentos de uma pequena vila imaginária, Tizangara, ao sul do país, onde militares da ONU começam a explodir subitamente.

A história desse livro é simples, mas não é ela que o torna uma obra tão importante, mas sim o jeito como é contada. Os acontecimentos se passam em Tizangara, uma pequena vila de Moçambique e tudo começa quando um pênis é encontrado numa estrada. Daí para as outras explosões, que deixam apenas as boinas azuis dos militares da ONU e suas partes íntimas, não demora muito. Com isso, oficiais da Organização das Nações Unidas desembarcam em Tizangara para descobrirem mais sobre essas tais explosões.


Primeiro, um pouquinho de história para sabermos como estava a situação no país. Portugal ia começar a ocupar o território que hoje é Moçambique, mas em 1885 houve a partilha da África - Imperialismo - e então ela se tornou uma ocupação militar, tornando-se depois colônia portuguesa. Em 1964 teve início a Guerra de Independência de Moçambique e dez anos se passaram até que finalmente conseguiu ser independente. Mas agregado à isso, o país entrou numa enorme crise que após muitos anos desembocaria numa guerra civil.

E é aí que história está inserida, um pouco depois da independência, e é um manifesto desse povo cansado de ter que ser submisso. No Imperialismo, por exemplo os brancos, os europeus, consideravam ter um fardo, o de levar a colonização para os outros povos, ditos selvagens... Isso gerava uma insatisfação. A própria terra estava cansada de mostrar essa imagem de fraqueza e subordinação.

As pessoas de Tizangara tentam explicar como podem essas explosões misteriosas, o que dá ao livro um certo tom de misticismo, daquela magia africana e somos apresentados a lendas e feitiços, como os likahos. Além disso, a cada início de capítulo temos um "Dito de Tizangara" ou a fala de algum personagem. Como por exemplo: "O que não pode florir no momento certo acaba explodindo depois."

Cheio de joguetes com as palavras como "pousar e repousar", "dúvidas e dívidas" e outras figuras de linguagem como aliteração e assonância, Mia Couto escreve uma obra simples, mas que carrega muita informação. A linguagem também é extremamente metafórica, assim como a história em si. E aqui temos um exemplo disto: "morte é uma brevíssima varanda. Dali se espreita o tempo como a águia se debruça no penhasco - em volta todo o espaço se pode converter em esplêndida voação." Outro ponto a se destacar sobre a escrita do livro é o vocabulário. Há várias palavras do português moçambicano e além de dar um toque de particularidade ao livro, dá animação também, parece ser um português mais alegre que o nosso com palavras como: zuezuado, que vem de zuezué, tontura; Tchovar, empurrar; Quizumbar, farejar como uma hiena; Nhenhenhar-se, engasgar-se, entre outras.

Como citei, a história em si é uma bem construída metáfora e confesso que eu não havia notado toda a sua grandeza até ler as palavras do próprio autor ditas na entrega do Prêmio Mário Antônio, em 2001: "O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência - a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos." É como se com esses processos de colonização, os de fora achavam que tinham pleno poder sobre os outros, achando-se superiores, roubando até mesmo suas esperanças. O flamingo, em algumas tradições, é considerado um símbolo de esperança e em O último voo do flamingo, Mia Couto quis contar uma história sobre isto. 

O jeito como a história é narrada faz com que qualquer um seja o narrador e Tizangara seja qualquer lugar, em qualquer tempo. É um livro simples, conciso, mas extremamente interessante.

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