Postado por: Maac Gouveia sexta-feira, 2 de agosto de 2013



Noruega.
Karl Ove Knausgård.
A Morte do Pai.


Sinopse: Uma noite de ano-novo e rebeldia, regada a cervejas vedadas aos menores, um amasso nauseante na primeira namorada, um show fracassado com a banda de punk no shopping center - em 'A morte do pai', Karl Ove Knausgård se concentra em narrar os anos de sua juventude. Ao embarcar numa investigação proustiana e incansável do próprio passado, o narrador busca entender, sobretudo, a trajetória de seu pai, figura distante e insondável que acaba entrando em declínio e levando o núcleo familiar à ruína. Honesto e sensível, Knausgård investiga também o próprio presente - aos 39 anos, pai de três filhos, ele deve se ajustar à rotina em família e desempenhar as tarefas de pai, trocar fraldas e apartar brigas, tudo isso enquanto tenta escrever seu novo romance, numa luta diária.


Faz um tempão que eu não escrevo nessa coluna... A primeira vez foi há um tempão atrás, com Hamlet, da Inglaterra. De lá para cá não li nada além de literatura norte-americana ou talvez britânica também. Até que eu ganhei este maravilhoso livro em uma promoção e então pensei que ele poderia ser mais um dos oitenta livros que pretendo ler de nacionalidades bem distintas, assim digamos.

Esse livro foi, de certa forma, um desafio para mim. Eu nunca havia lido uma biografia - nesse caso autobiografia - e não sabia como seria minha reação ao ler algo do tipo. Tinha a noção de ser uma coisa chata e maçante, mas acabou que o livro me surpreendeu e muito. A história nos é passada com tanta veracidade e sinceridade que simplesmente nos envolve.

Repleto de reflexões, pensamentos e obviamente memórias, mergulhamos numa parte da vida de Karl Ove Knausgård, mais precisamente na sua juventude, passando um pouco pelo seu presente e ancorando num momento crítico de sua vida. Cada parte do livro é mostrada com tantos detalhes e tantas descrições que é como se entrássemos nas memórias do autor. Ou melhor, como se as suas lembranças adquirissem forma e estivéssemos dentro dela. E tudo é tão sinestésico. É como se realmente todos nossos sentidos estivessem trabalhando: nossos olhos veem cada detalhe, cada cor, nossos ouvidos ouvem os sons e até o nosso olfato parece ser ativado.

E é um mergulho infinito, mas agradável. Somos jogados em uma de suas lembranças e então, algum gancho nos leva à outra lembrança e assim infinitamente, como um jogo de espelhos. O livro é de uma vivacidade incrível, principalmente na primeira parte do livro, mais focado nos seus anos jovens, anos rebeldes. Vemos suas primeiras bebedeiras, o reconhecimento de seu corpo, os primeiros amores, a rejeição da sua banda enquanto tocavam num shopping center... Coisas pertinentes da juventude. Seu presente, agora escritor e tendo que conciliar com a "carreira" de pai, suas dúvidas, seus anseios... Tudo é tão real e fugaz. Realmente vivo. Às vezes nos encontramos nele, seja em suas atitudes, ou em seus pensamentos. Nos reconhecemos naqueles fatos cotidianos.

Já na segunda parte do livro, temos uma aura de melancolia. Isto devido à figura de seu pai. Desde o começo do livro vemos o que o pai representa para o menino. Um mistério, um código a ser decifrado. E isso exerce uma força tão magnânima no Karl Ove ainda jovem que ele acaba carregando essa sensação em relação a seu pai pelo resto da vida.

Outra coisa sobre o livro que deve ser ressaltado é que ele nos submerge numa profunda reflexão das coisas. As relações com as pessoas, as coisas simples do cotidiano, a morte... Nós mesmos. Ele conseguiu transcrever tudo isto para o papel. Nossa sensibilidade, nossa fragilidade. Não é a toa que o autor é bestseller na Noruega e se tornou um fenômeno literário internacional. Descrito como portador de uma habilidade proustiana de hipnotizar o leitor. {La Stampa, Itália}

A Morte do Pai, uma obra dramática e intensa, repleta de sentimentos puramente humanos, é o primeiro de seis volumes da série autobiográfica do autor. Depois das pouco mais de quinhentas páginas desse volume, você vai querer mais. A escrita de Karl Ove é tão impactante e verdadeira que você tem essa sensação. E então, encerro aqui com dois pensamentos do autor:

"Para o coração a vida é simples: ele bate enquanto puder. E então para."

"(...) não era mais que um cano que vaza, um galho que se quebra ao vento, um casaco que escorrega do cabide e cai no chão."


{ 3 comentários... leia-os abaixo ecomente também! }

  1. Adoro essa coluna do blog, e também adorei a resenha, que me deu vontade de verdade de ler o livro, mesmo que não goste de biografias ou algo do gênero.
    Que tal a próxima parada ser na Alemanha com Mein Kampf de Hitler?

    Até mais... o/
    www.bookolicos.com

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  2. Tenho muita vontade de fazer um desafio destes. Bem, só eu escolher os livros. =)

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  3. Que legal essa coluna! Adoro ler livros de países diferentes. E acho que é a primeira vez que ouço falar nesse autor (: Que coincidência, criei uma meta de leitura pra mim assim também, inspirada por um clube do livro que eu encontrei no goodreads. Até agora li cinco livros também, mas esse ano pretendo aumentar a lista (: Dá uma olhadinha: http://pfslivros.blogspot.com.br/2014/04/volta-ao-mundo-em-80-livros.html

    Seguindo seu blog, parabéns!
    Beijos
    http://pfslivros.blogspot.com.br - Precisamos Falar Sobre Livros

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