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- Resenha: Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade
Postado por: Maac Gouveia
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Livro: Sentimento do Mundo
Editora: Companhia das Letras
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Páginas: 80
Sinopse: Sentimento do mundo, publicado em 1940, é a obra em que o poeta mineiro traz um olhar cuidadoso para temáticas políticas e sociais de seu tempo. Afinal, durante sua elaboração o Brasil vivia o Estado Novo de Getúlio Vargas e a Europa observava a assustadora ascensão nazifascista. Esse senso crítico apurado é perceptível em poemas como "Congresso Internacional do Medo" e "O operário no mar", além do texto que dá título ao livro. O tom desesperançado não impede que Drummond revele também uma faceta delicada e intimista, seja lembrando-se de sua Itabira natal ("apenas uma fotografia na parede"), seja ao homenagear Manuel Bandeira em "Ode ao cinquentenário do poeta brasileiro".
Eu realmente
não tenho jeito para interpretar poesia. Mesmo eu sendo uma pessoa detalhista -
mas acho que é mais relacionado com a questão de memória - não consigo perceber
várias coisas do poema que estão intrínsecas nele, relações nas entrelinhas e
essas coisas. Por isso não me aventuro muito por este lado da literatura e o
máximo de poesia que leio é uma página do facebook, Eu me chamo Antônio, que,
aliás, todos deveriam conhecer. Por isso, Sentimento do Mundo foi a minha
primeira experiência com um livro do gênero.
E se não
tivesse o posfácio explicando alguns pormenores, essa experiência não seria
nada boa.
Poema é uma
coisa tão delicada, tão intimista, que depende muito de como você se sente e
como aquilo te toca, por isso de cara já gostei de alguns poemas. O livro tem
foco basicamente na ampliação do homem para o mundo. Introspecções que então
associam-se com a sociedade. Inclusive a pintura que escolheram como capa do
livro nesta edição, revela isto. É como se o homem fosse formado de sociedade,
de mundo.
E então
tenho dois poemas para destacar, fora outros dois, que depois de uma análise
mais profunda com a ajuda do Posfácio de Murilo Marcondes de Moura comecei a
perceber o quanto eram bons. O primeiro é Canção de berço e o segundo Indecisão
do Méier. O trecho “Também a vida é sem importância./.../A vida é tênue,
tênue/O grito mais alto ainda é suspiro” do primeiro poema, assim como ele
todo, fala da transcendência que é a vida. De como tudo isso um dia será nada,
só lembrança. O outro, Indecisão do Méier, conta sobre o tal bairro carioca que
tem dois cinemas, um ao lado do outro, ambos bonitos, com bons filmes e bons
artistas...
E bem, nós
nos deparamos com “dois cinemas” muitas vezes na vida. O ser humano é tão
indeciso, sempre tendo que escolher uma coisa ou outra. Isto ou aquilo. Então
eu diria que essa indecisão não é só do Méier, ou só de Drummond, mas sim de
todos nós que a cada dia temos dúvidas sobre que caminhos escolher.
Já
Sentimento de Mundo e principalmente, Noturno à janela do apartamento, consegui
ver o que Drummond queria passar com uma certa ajuda. No primeiro, as estrofes
tem um grande jogo de tempo. Estrofes falando do presente, outras do futuro e
assim repetidamente. Além disto, a primeira estrofe é como uma definição do eu.
"Tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo" É como se eu fosse
tão simples, quase inútil... Mas que mesmo assim tinha algo de especial,
grandioso. E em Noturno, temos uma grande dose de melancolia. "Nenhum
pensamento de infância,/ nem saudade, nem vão propósito. Somente a
contemplação/ de um mundo enorme e parado.". Ele chega até a considerar o
suicídio como uma opção válida... No fim de tudo, a última estrofe fala:
"Triste farol da Ilha Rasa". E era assim que Drummond se sentia,
creio, um farol. Apenas ali a contemplar o mundo, a imensidão, tendo que se
manter centrado, fincado.
Por isto
gostei do livro, mas mesmo assim acho que não o aproveitei totalmente. Não
peguei todos os detalhes, todos os intrincados... Alguns poemas para mim
pareciam "inúteis", com o perdão da palavra, outros bem legais até.
Como decidir o que achei então? Até por que, poesia como já disse, é bem
relativa. É um conceito que depende da interpretação de cada um. Então acabo me
mantendo indeciso, sem saber em qual cinema entrar.