Postado por: Maac Gouveia segunda-feira, 11 de março de 2013


Brasilivros. Sul. Incidente em Antares.

Vida e morte. Uma dualidade que existe há tanto tempo na sociedade... Deve ter vindo junto com a formação dela, e continua presente até hoje. A vida, cheia de esplendores, felicidade e também muitos trancos e barrancos. A morte, supostamente calma, é o fim. O fim de tudo, de sua existência. Em Incidentes em Antares - do nosso grandioso escritor brasileiro, Érico Veríssimo - temos mais que nunca esse grande embate. O livro em si é esteticamente dividido em duas partes. A primeira, nomeada Antares e a segunda, Incidente e eu poderia dizer que a primeira representa a vida e outra, sua inimiga mas companheira, a morte.

Antares. Nossa cidade com nome de estrela às margens de um rio presencia numa sexta-feira 13 de dezembro de 1963, um incidente jamais visto na história de toda humanidade: sete mortos levantam de seus caixões e passam a agirem como vivos; andam, falam e ainda tem memória. Como pano de fundo à isso tudo, vemos Veríssimo construir literalmente toda a cidade de Antares, desde os primórdios, quando chamava-se ainda apenas Povinho da Caveira, passando a ter fortes embates dos Vacarianos e Campolargos, e por aí vai.

Extremamente carregada de política - e quantas coisas já aconteceram no Brasil em relação a isso, não? - esta primeira parte mostra-nos o desenvolvimento da cidade, tanto quanto do país, que passa por enormes mudanças. E isso é tão importante... Sabermos a história do nosso país. Muitas vezes sabemos tanto sobre outros locais, mas desconhecemos nossa própria pátria.

A obra trata de guerras acontecidas entre antes de 1832, até a própria 1963, ano do incidente, como a guerra do Brasil e Argentina pela chamada Banda Oriental, além também da Guerra dos Farrapos, contra o governo imperial e guerras civis ou contra o Paraguai. Como já citado anteriormente, a política é uma figurinha carimbada - e bem repetida - neste álbum. Getúlio Vargas, o pai dos pobres, Juscelino Kubitschek, com seus cinquenta anos de progresso em cinco e Jânio Quadros, com sua vassoura varrendo a bandalheira na política, foram discutidos com ardor na obra, tanto quanto suas gestões e feitos. O Estado Novo, a criação de Brasília, renúncias e suicídios... Um período que poderia se chamar de conturbado.
Ainda empenhado num cunho político, temos também outro grande duelo - não tão grande quanto o citado no início - dos de esquerda e os de direita, que incluíam comunistas, fascistas, trotskistas, entre outros. E toda a primeira parte pode ser considerada de enorme valor histórico, já que narra uma boa parte de nossa história.

E é na segunda parte, no Incidente, que temos mais literatura que história - a parte que eu mais gostei, confesso. Depois de uma greve geral, onde até os coveiros se recusavam a trabalhar, sete defuntos tiveram que permanecer fora do cemitério. Isto poderia parecer até normal, se não fosse um pequeno detalhe: os mortos no dia seguinte, ressuscitaram. Sem nenhuma explicação.

Em busca de que pelo menos sejam enterrados, os sete mortos saem de seus caixões em direção à cidade e arquitetando um plano - de alguma forma, elas tinham plena consciência de tudo aquilo - decidiram que visitariam alguns amigos, ou mesmo desafetos, e depois num confronto final, se prostrariam no coreto da cidade até que alguma coisa fosse resolvida. E é aí onde vemos a enorme podridão humana.

Como o próprio defunto, Cícero Branco, dissera em plena praça pública, aquilo tudo era um baile de máscaras. Pessoas que no cortejo fúnebre de seu ente querido tinham máscara de sofrimento, em casa brigavam para dividirem a herança. Pessoas que por baixo dos panos faziam as mais diversas falcatruas ou deslealdades - como adultérios e outros crimes - vestiam máscaras de puritanos em frente à sociedade. E até hoje é assim. O baile não acaba e nunca acabará. É infinito.

Com grandes questionamentos sobre a vida - quem é que nunca questionou alguma coisa? - a segunda parte é cheia de filosofias, diversos pontos de vida sobre as mais diversas perguntas da vida, algumas sem nenhuma resposta. Érico consegue num livro unir a História, com suas reviravoltas e revoltas, com a vida e consequente a morte, dois pontos crucias e inevitáveis da estadia na Terra, também com suas voltas. E acerca da finitude humana, uma frase resume tudo: Você já pensou como nossa vida seria barata e sem sentido se a gente soubesse que não ia morrer nunca? Quando muito moço, eu me sentia como uma personagem que tinha entrado por engano numa peça a cujo elenco não pertencia.

Mas pelo contrário, estamos sim neste elenco, e devemos aproveitar este grandioso palco para fazer nosso papel valer a pena.

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